Trabalhar de forma remota não significa, necessariamente, fugir da rotina do escritório, e é mais do que um possível benefício flexível. As obrigações e responsabilidades trabalhistas seguem os colaboradores independentemente de estarem trabalhando in loco ou não. Essa questão, dos colaboradores remotos e o dilema da produtividade, permeia muitas reuniões de RH, desde o advento da pandemia 2 anos atrás. De acordo com pesquisa realizada pelas empresas de software Qatalog e GitLab, quem trabalha em casa gasta em média 67 minutos por dia demonstrando que está online e produzindo. A questão que se sobressai nesse panorama é a de que: ao invés de aproveitarem a flexibilidade de horários proporcionada por esse arranjo, fazendo pausas na produção quando necessárias, os colaboradores então se sobrecarregando a fim “justificar” o não comparecimento no escritório.

Colaboradores remotos e o dilema da produtividade (trabalho tradicional x desempenho no home office)

O home office, trabalho remoto e híbrido, são modalidades que já existiam antes, mas que foram popularizadas e difundidas pela pandemia. Muitos profissionais foram obrigados a deixar seus escritórios em busca de uma proteção e segurança maiores. A decisão, além de recomendada, foi realmente acertada, mas esse panorama trouxe a luz pontos relevantes a serem debatidos. A possibilidade de flexibilizar horários e cargas diárias de trabalho deveria ser um chamariz bastante positivo para os colaboradores. E realmente é, mas só para aqueles que sabem usufruir dessa “liberdade” de forma correta.

Essa maleabilidade inicial trouxe em contrapartida a volta de velhos hábitos, que podem modificar o futuro do trabalho de maneira não desejada. Com uma abundância de ferramentas para se trabalhar, e pouco direcionamento por parte dos gestores, os colaboradores remotos criam uma cultura de overworking. Acreditam que devem produzir constantemente, com o propósito de provar sua eficácia longe da supervisão direta de seus líderes.

Segundo levantamento feito com mais de 2 mil knowledge workers, como são conhecidos os profissionais que podem trabalhar remotamente, 54% deles se sentem pressionados a ficarem sempre online enquanto trabalham de home office, por exemplo. É um esforço contínuo, imbuído de culpa, para serem reconhecidos por suas empresas. Falta time management da parte deles, o que significa responder e-mails fora do horário de expediente ou participar de reuniões extras.

Assim sendo, aproximadamente 67 minutos são adicionados na carga horária diária dos colaboradores remotos, o que culmina em torno de 5,5 horas semanais a mais. A principal dificuldade deles é de se desconectar do trabalho quando este não é feito de forma presencial. A constante cobrança por produtividade, muitas vezes autoimposta, gera estresse e ansiedade. Dessa forma, um cenário que seria sob todas as óticas positivo, acaba se tornando negativo.

A satisfação e a felicidade no trabalho são responsabilidade da liderança?

Conforme o estudo Work Wellbeing Insights realizado a pedido do site Indeed, 60% dos 5 mil colaboradores entrevistados acredita que sim. Respondendo sobre o estresse, 30% apontaram que o chefe direto não se importa com o bem-estar deles. Esse cenário se intensifica ainda mais com o trabalho remoto ou home office. Muitos colaboradores se sentem “esquecidos” pela empresa. Não há um follow up de tarefas, não há um acompanhamento de demandas, apenas cobranças por resultados que justifiquem o afastamento do escritório. A situação levanta a questão: será que estamos sobrecarregando demais as lideranças corporativas? Dando a elas mais responsabilidades do que podem arcar? Acreditamos que não. O objetivo principal de qualquer relação humana, seja pessoal ou profissional, é o de fazer feliz a si mesmo e ao próximo. Ou ao menos, deveria ser.

Quando líderes gerenciam pessoas, independentemente da quantidade, mas principalmente se esse gerenciamento for feito a distância, é imperativo que a satisfação delas seja uma prioridade. O motivo é óbvio, já o abordamos diversas vezes em nossas postagens: colaboradores felizes e valorizados, tendem a ser mais produtivos e engajados naturalmente, sem a necessidade de cobranças desgastantes e desnecessárias.

Um treinamento que defina boas práticas de trabalho remoto ou home office, é uma boa opção para colaboradores e lideranças sem experiência com esse modelo, a fim de aparar possíveis arestas de ambas as partes. Essa prática é muito mais complexa do que apenas “não ir ao escritório”, ou “trabalhar de casa”. Não definir regras e horários de produção, e não fazer uma orientação dos colaboradores a distância, é receita para o desastre: estresse, ansiedade, baixa produtividade e sentimento de exclusão.

Não produzir também é produzir: O Ócio Criativo, os colaboradores remotos e o dilema da produtividade

O termo “ócio criativo”, cunhado pelo sociólogo italiano Domenico De Masi, refere-se aos períodos de relaxamento necessários para uma boa performance profissional. Segundo ele, o cérebro está sempre sendo obrigado a produzir e reter informações, muitas vezes inúteis. Assim, não há espaço para novas ideias florescerem. O descanso não é bom só para o corpo como também para a mente. Por isso, fazer pausas durante o trabalho é tão importante para a saúde mental e produtividade dos colaboradores. O desafio, principalmente no remoto ou home office, é diferenciar esse ócio necessário para recarregar as baterias, da preguiça e procrastinação. Aqui entram o time management e separação do “espaço de trabalho” do “espaço de lazer”, que falamos antes.

Já batemos na tecla de que a criatividade não é inesgotável. Ela precisa ser estimulada constantemente, com livros, séries, filmes, música… enfim, com experiências. Que requerem tempo. Do contrário, produzir torna-se um fardo e não um prazer, e o resultado nunca é satisfatório.  Essa é uma questão que muitos líderes não consideram em relação aos colaboradores remotos e o dilema da produtividade. O período de síntese e maturação de ideias não é sinônimo de negligência ou irresponsabilidade. O valor da mão de obra e do tempo, não pode ser apenas gerar dinheiro e lucro, mas também gerar conhecimento.

Concluindo

De acordo com Christian Barbosa, as nossas atividades diárias podem ser classificadas e divididas em 3 categorias: Importantes (precisam ser feitas, mas não imediatamente), Urgentes (emergências que precisam ser resolvidas assim que se apresentam), e Circunstanciais (são inúteis, mas muitas vezes somos obrigados a fazê-las). Com o propósito de buscar a alta performance, principalmente no trabalho remoto ou home office, o ideal é aumentar as atividades importantes, diminuir as urgentes e se possível, eliminar as circunstanciais. É primordial incluir na categoria “importante”, reservar um tempo para cuidar da saúde física e mental, dos amigos, da família e buscar novos conhecimentos e aprendizados.

Talvez o maior desafio corporativo contemporâneo seja o de conciliar o bem-estar pessoal com a alta performance profissional. Os colaboradores remotos provavelmente são o melhor e mais concreto exemplo dessa dicotomia. E você caro leitor(a)? Tem experiência com o trabalho remoto ou home office? Como foi a sua adaptação nos primeiros meses? Seu parecer tem sido positivo ou negativo? Conte para a gente em nossas redes sociais.